14 de agosto de 2012

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            O trânsito fluía normalmente no centro da cidade. As pessoas andavam seguindo seu caminho naquela eterna rotina. Os becos com mendigos e pessoas fazendo seus negócios ilícitos. Com portas de bares ali também. E em um desses bares era feito o negocio mais ilícito e negro de todos. O contrabando. Não um simples contrabando. Mas sim contrabando de órgãos. E também não era de órgãos comuns. Eram de pés, mãos, braços, pernas e outras partes assim. Eram vendidas para o único publico que compra aquela mercadoria. Zumbis. O comercio de órgãos para zumbis era um bom mercado. Sempre tinha clientes novos e eternos, pelo menos na maioria das vezes. Mas esses seres demoravam um pouco a se tornarem clientes, pois nunca entendiam que tinham virado zumbis. E isso estava acontecendo agora mesmo, um pouco distante da loja, no final da cidade, para ser mais preciso no cemitério.
            Antonio Carlos acordava e não sabia o que acontecia. Estava debaixo da terra. Não havia nada entre ele e a terra. Aquilo estava incomodado. Começou a cavar da forma que conseguia para cima. Cavou até sua mão sair ele poder sentir o vento. Colocou a outra mão e se puxou para cima. Era dia. Sua cova era uma sem lapide e outras coisas, era apenas um retângulo de terra mexida na parte mais pobre do cemitério. Sua mente estava totalmente confusa. Não sabia o que tinha acontecido. A ultima coisa que se lembrava era chegar em casa e se deitar.
            Saiu andando dali. Estava todo sujo de terra, mas tudo bem. Passou pelo centro da cidade e viu que eram 3:43. Decidiu ir ao hospital onde sua namorada trabalhava pedir ajuda. Hospital Santa Regência era grande e Juliana trabalhava na ala pediátrica, no terceiro andar. Antonio entrou no hospital e foi rumo ao elevador.
            Igor viu ele e já se desesperou. E começou a pensar “Não pode. Antonio Carlos não pode estar ali. Eu fiz todos os exames e não tem como ele estar aqui.” E aquele pensamento fica na sua cabeça até que ele se deu conta: Ele não pode se encontrar com ninguém! Principalmente com a Juliana.
            Antonio entrou no elevador e começou a subir rumo ao terceiro andar. E Igor já correu para as escadas. Começou a subir o mais depressa que podia. Chegou enfim ao terceiro andar e antes de Antonio. O bom era que Juliana não estava ali. Tinha tirado licença por causa da morte de Antonio. Mas mesmo assim ninguém podia ver ele ali. Mas não tinha como tirar ele dali sem que as pessoas percebessem. Então teve uma ideia.
            As portas do elevador se abriram e Antonio saiu. Igor entrou e já disse:
            – Antonio, lembra de mim? Aposto que veio atrás da Juliana. Ela está lá em baixo, vamos que eu lhe mostro, estava descendo mesmo.
            – Desculpa, não lembro de você, mas obrigado por me levar até ela. De onde a gente se conhece mesmo? – perguntou Antonio enquanto entrava no elevador.
            “Eu fiz sua autópsia.” Igor pensou em dizer, mas no lugar disse:
            – Da festa do hospital de final de ano. – o que não era totalmente mentira.
            Então o elevador chegou ao subsolo 2. Necrotério. O lugar era frio, mas fez Antonio se sentir mais vivo, como se não tivesse morrendo ali. Como se aquele frio retardasse seu apodrecimento.
            – Necrotério? O que ela está fazendo aqui?
            – É que... – estava difícil achar desculpa agora – um bebê morreu no parto e ela quis saber o motivo. Historia trágica.
            – Que triste, a mãe deve ter ficado desolada com a morte.
            – Você não imagina o tanto.
            – Então, onde está a Juliana?
            – Entre aqui, ela está no freezer. – Igor apontou para a entrada.
            Antonio entrou e Igor foi atrás. Quando entrou Igor e pegou uma bandeja que era usada para guardar utensílios.
            – Tem certeza que ela está aqui?
            Enquanto Antonio perguntava isso e olhava pela sala, Igor veio por trás com a bandeja e bateu em sua cabeça com tanta força que deu para ver o pescoço quebrar para o lado enquanto Antonio caia inconsciente no chão.
            A visão lhe falhava, estava acordando e a cabeça doía. Tentou se levantar, mas estava todo amarrado em uma mesa. Olhou para o lado e viu Igor e uma mulher, sentados em cadeiras ao seu lado. Não era no hospital que estavam, mas numa espécie de galpão.
            – Finalmente acordou Little Zombie. Você quase nos causa problemas indesejados. Quase. – a mulher falava isso enquanto fumava seu cigarro, mas o estranho não era isso, mas o fato dela ter o rosto de cores e costuradas.
            – Onde estou? Do que você está falando?
            – Vou lhe explicar uma coisa Little Zombie...
            – Porque você fica me chamando de Little Zombie?
            – Porque você é um zumbi agora. E temos duas opções para você. Você aceita isso, vive no submundo conosco e nunca mais vê ninguém da sua antiga vida ou morre agora! – a mulher sorriu enquanto dizia isso e levantava os braços como se isso fosse algo grandioso.
            – Eu aceito viver com você. Já que é isso ou a morte.
            – Muito bom Little Zombie. Você aprende rápido. Igor pode soltar ele.
            Igor se aproximou e soltou as amarras que prendiam Antonio. Antonio quando ficou totalmente soltou deu uma esticada nas pernas e olhou para a mulher e Igor. Nem um deles era forte. Antonio deu um soco na cara de Igor e saiu correndo. Procurando uma saída. Achou uma enquanto ouvia ao fundo a mulher gritar para Igor ir atrás dele. Saiu dali o mais rápido possível.
            Para onde ir agora? Essa era a pergunta que rodeava a cabeça de Antonio. Decidiu ir para casa já que Juliana não estava no hospital só podia estar em casa, principalmente se ela achava que ele estava morto. Correu o mais rápido que podia. O lugar se encontrava o galpão, estranhamente, não era longe de casa. Chegando lá ele viu pela janela da sala Juliana. Estava toda triste passando com uma xícara, provavelmente de chá. Começou a andar, quando em volta da casa começara a aparecer pessoas muito fortes. E quando se aproximaram um pouco ele percebeu que eram zumbis com partes costuradas de pessoas fortes. E atrás dele apareceu de novo a mulher.
  – Acho que você não me entendeu da primeira vez Little Zombie. Quando eu disse que você tinha que deixar isso ou morrer eu falei serio. Você está morto, não tem no que se meter na vida dos vivos. Eles vivem a vida deles separados da gente. Se você se intrometer, só levará sofrimento e dor para eles. Se você realmente a ama, então a deixe em paz.
            – Mas eu preciso falar com ela antes de desistir totalmente dessa vida antiga. Ela precisa saber que eu a amo e, além disso, preciso me despedir.
            – O tempo para isso já passou Little Zombie. Agora você escolhe de vez. Vive conosco ou morre. Caso escolha a segunda opção são eles – a mulher apontou para os fortões – que irão cuidar de você.
            – E como viverei essa vida de morte? Eu estou apodrecendo, me decompondo. Não tem como eu continuar.
            – Tem, Little Zombie. Ao decorrer dos anos nós, zumbis, aprendemos a nos cuidar. Podemos disfarçar o cheiro, manter a coloração da pele, arrumar membros novos, nós podemos tudo, menos nos envolver com os vivos. Então, qual sua decisão?
            Antonio olhou para a janela e viu a luz acesa. Lembrou-se do rosto de Juliana sorrindo, dele chorando e as palavras “dor” e “sofrimento” vieram a sua cabeça. Já estava de joelhos no chão.
            – Eu vou com você. Se isso for o melhor para mim e para ela, então eu vou com vocês.
            – Muito bem Little Zombie. Se levante e venha para cá, perto de mim e vamos para sua nova casa.
            Antonio e Lady Zombie andavam rumo a nova vida de Antonio. Em uma nova espécie de mundo. 

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